No RUF (Ranking Universitário Folha) deste ano, as universidades confessionais —vinculadas ou pertencentes a igrejas ou a confissões religiosas— obtiveram a melhor colocação em grande parte dos cursos avaliados entre as particulares.
Considerando apenas as universidades privadas, aparecem no alto as PUCs (Pontifícias Universidades Católicas) do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro e do Paraná, seguidas pela Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos, do Rio Grande do Sul) e pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
No ranking geral, essas instituições ocupam, respectivamente, as 19ª, 25ª, 32ª, 33ª e 38ª posições.
Para Artur Jacobus, vice-reitor da Unisinos, que é gerida por uma ordem jesuíta em São Leopoldo (a 35 km de Porto Alegre), o diferencial de uma universidade confessional é um sentimento de que há um compromisso de buscar o melhor dentro do âmbito educacional.
"Eu noto que há uma noção muito forte de missão. São organizações que têm um compromisso muito alto com qualidade", afirma.
Para Jacobus, a personalidade confessional da instituição implica uma responsabilidade junto à população local. "Entre os jesuítas, fala-se do ‘magis’, um conceito de querer sempre mais. Não se contentar com o mínimo, mas querer algo que transcenda o que a gente já tem. E isso faz a diferença", acrescenta.
Já Marco Tullio Vasconcelos, reitor do Mackenzie, cita a importância de um corpo docente bem preparado para garantir uma formação acadêmica consistente.
"A meta de educar e cuidar é tradicional em todas as missões presbiterianas do mundo, como de outras denominações. Qualquer boa universidade persegue a excelência acadêmica, e nós fazemos porque temos um dever ético e para com Deus de fazer o melhor que estiver sendo colocado nas nossas mãos", afirma.
O reitor da PUC-Campinas, Germano Rigacci Júnior, também avalia que as boas colocações de instituições desse tipo são consequência do compromisso em desenvolver projetos pedagógicos de formação com qualidade.
Presente em seis estados do país (Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás, Paraná e Minas Gerais), o modelo confessional das PUCs é um pouco diferente dos presentes no Mackenzie e na Unisinos.
A administração dos campi é descentralizada. A do Rio de Janeiro, por exemplo, é de ordem jesuíta, enquanto a do Rio Grande do Sul e a do Paraná são maristas. Apesar das diferenças das entidades mantenedoras, Rigacci Júnior explica que todas elas respondem à igreja católica local e ao seu arcebispo.
Em relação à parte financeira, no Mackenzie, todo o superávit da universidade retorna para ela mesma, de acordo com o reitor. A captação anual da instituição presbiteriana chega aos cerca de R$ 40 milhões.
"Entre as nossas fontes de recursos, temos agências de fomento à pesquisa e um fundo próprio, além das mensalidades", afirma Vasconcelos.
Na Unisinos, Jacobus diz que o lucro também é revertido para a própria escola. Assim como o Mackenzie, a instituição gaúcha trabalha com recursos advindos de financiamento de pesquisas, sejam de agências, sejam de empresas.
De acordo com ele, até o final de 2023, a universidade terá investido em pesquisa R$ 20 milhões próprios e R$ 90 milhões que são captados por meio de apoios.
Na visão da filósofa e psicanalista Samantha Buglione, coautora do livro "Entre a Dúvida e o Dogma: Liberdade de Cátedra e Universidades Confessionais no Brasil", não há necessariamente relação entre qualidade de ensino e pesquisa e o caráter confessional das universidades.
Buglione atribui os bons resultados mais à liberdade acadêmica e financeira que elas têm. "Pelo seu caráter filantrópico, essas universidades têm a possibilidade de arriscar mais na escolha de temas, cursos e pesquisas sem estar atreladas a uma obrigação de lucro. Nesse sentido, aproximam-se das instituições públicas."
A especialista ressalta que as confessionais podem até visar o lucro, mas que a não necessidade de multiplicar o dinheiro permite que sejam feitos mais investimentos.
Atualmente, a Unisinos possui polos em São Leopoldo e em Porto Alegre e conta com um corpo docente de 812 professores. No total, são cerca de 20 mil alunos, dos quais 17,5 mil estão na graduação.
A Universidade Presbiteriana Mackenzie tem unidades em São Paulo, Campinas e Alphaville (a 81,7 km da capital paulista), em que trabalham 1.080 professores e estudam cerca de 33 mil alunos.
A PUC-Campinas, que lançou neste ano os cursos de engenharia agronômica e engenharia de alimentos, tem 15 mil alunos e 790 professores, considerando graduação e pós-graduação.
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