Cresce número de professores de ensino superior com mais de 50 anos

Experientes são essenciais para qualidade, mas instituições precisam acelerar renovação

Thereza Venturoli Sabine Righetti Estêvão Gamba
São Paulo

O corpo docente das universidades brasileiras está envelhecendo. Segundo levantamento da Folha, entre 2010 e 2017, o número de professores com 50 anos ou mais atuando na graduação presencial e na pós-graduação cresceu de 33,7% para 37,9%. 

Essa tendência pode ser explicada, em primeiro lugar, pelo envelhecimento da população brasileira em geral: vivendo mais, professores ficam na ativa por mais tempo. 

Além disso, um docente aposentado não costuma ser substituído por outro em início de carreira. Os processos seletivos não impõem limites de idade, mas fazem exigências quanto à formação acadêmica do candidato.

“As universidades exigem cada vez mais o título de doutor, o que significa mais tempo de estudo e idade mais avançada”, diz Eblin Farage, secretária geral do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior.

Esse envelhecimento, aliás, não é negativo. Para especialistas e gestores, um corpo docente com um terço dos professores com idade acima de 50 é natural e desejável. Profissionais experientes são essenciais para estruturar e conduzir graduações e pesquisas.

A permanência estendida de docentes traz ainda uma vantagem financeira para universidades estaduais. Quando um professor se aposenta nessas instituições, permanece na folha de pagamentos. Em tempos de contingenciamentos, isso impõe uma trava no orçamento para a realização de novos concursos.

Na USP (Universidade de São Paulo), para os 3.400 professores acima dos 50 que lecionam, há 3.300 aposentados. 

 

A reitoria da universidade disse, em nota, que prevê fazer 400 contratações até 2020. Mas, segundo a Adusp (Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo), cerca de 1.600 professores estão em condições de se aposentar, e a renovação não acompanha. 

Em 2019, até agosto, foram 136 aposentadorias para apenas 32 contratações. “A reposição deveria ser gradual e constante”, diz Rodrigo Ricupero, presidente da Adusp. “Imagine o problema que a universidade terá se todos esses professores resolverem se aposentar ao mesmo tempo.” 

Algumas universidades, porém, vão na contramão dessa tendência. De modo geral, são instituições com campi em cidades do interior, distantes de grandes centros urbanos, que atraem professores em início de carreira. Em algumas, o reitor não passa dos 40 anos.

A Universidade Regional do Cariri (Urca), estadual, no interior do Ceará, é a campeã entre as de maior proporção de professores com menos de 30 anos —18,5% em 2017. 

Segundo o reitor, Francisco de Lima Júnior, 42, instituições em regiões de crescimento econômico, com cursos em fase de consolidação, atraem jovens que desejam crescer com a universidade.

Nascida de um desmembramento da Universidade Federal do Ceará, a UFCA ampliou seu número de cursos de 14 para 23 em seis anos. Por isso, realizou concursos que atraíram candidatos em início de carreira, a maioria com idade entre 26 e 34 anos. 

“São pessoas com disposição para o novo, preocupadas em abrir caminhos e amadurecer, que resultam em bons pesquisadores e alimentam a instituição de ideias novas”, diz o reitor Ricardo Ness.

Professores experientes, que garantam a qualidade do ensino, são importantes, mas essa renovação é necessária, diz Simon Schwartzman, membro da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior, do MEC.

Para Reynaldo Fernandes, ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o essencial é manter um processo contínuo de contratações. 

“O ideal é ter um conjunto de professores que sigam carreira desde o início e que sejam repostos regularmente, conforme a necessidade.”

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