Um em cada dez professores de pós-graduação no Brasil estudou em universidades estrangeiras, indicam dados inéditos da plataforma Sucupira da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
O levantamento, que usa dados de 2017, aponta que 7.063 dos 59.145 professores que atuam na pós-graduação como permanentes fizeram o doutorado ou o mestrado integralmente fora do país, o que representa 11,94%.
A USP (Universidade de São Paulo), a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) lideram a lista, em números absolutos, das instituições que têm mais docentes com formação no exterior.
Os Estados Unidos são o país que mais recebe esses professores, seguidos de França, Reino Unido e Alemanha.
“Os docentes que se formam em instituições estrangeiras criam vínculos com professores desses países e propiciam projetos de cooperação internacional e programas de intercâmbio”, diz José Ricardo Bergmann, vice-reitor para assuntos acadêmicos da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).
A instituição possui o maior percentual de docentes com formação no exterior (37%).
Entre as escolas públicas, a UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) é a que tem o maior índice (25,97%).
O pró-reitor para assuntos de pesquisa e pós-g raduação da instituição pernambucana, Ernani Carvalho, cita entre as vantagens do intercâmbio o contato com uma nova cultura e outros pesquisadores, abordagens e tipos de metodologias, o que permite um novo olhar para os problemas.
“Quando há colaboração com autores estrangeiros em publicações científicas, o patamar de citações fica mais alto e amplia-se também a base de leitores, facilitando a difusão do conhecimento”, diz.
Carvalho diz que a UFPE sempre teve a tradição de contratar professores com formação no exterior, mas foi uma política que vincula a progressão na carreira à realização de doutorado que ajudou a universidade a dar um salto.
“Essa medida foi determinante. Levas de professores foram cursar o doutorado fora, o que contribuiu muito para a internacionalização e a qualidade da produção científica.”
Para Denise Carvalho, reitora da UFRJ, esse movimento de professores permite internalizar a ciência que se faz fora do país. “Muitas vezes, são áreas de pesquisa que não existem no Brasil, que passam a ser implementadas por esses professores quando eles retornam”, afirma.
Foi o que aconteceu com o linguista Carlos Vogt, professor emérito e ex-reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). No final dos anos 1960, ele integrou um grupo de professores que foi fazer mestrado na Universidade de Besançon, na França, em busca de fundamentação para desenvolver os estudos das ciências humanas na universidade paulista.
“No processo de consolidação de um sistema de pós-graduação e para a formação de pesquisadores, esse intercâmbio é chave. A história do desenvolvimento das nossas universidades é essa”, afirma Vogt, que foi um dos pioneiros na implantação da linguística e dos estudos modernos da linguagem no Brasil.
Para estimular o intercâmbio, a USP investe em programas de doutorado-sanduíche e dupla titulação, em que a pessoa faz o mestrado e o doutorado no Brasil e, depois, passa um período no exterior.
O pró-reitor de pós-graduação da USP, Carlos Gilberto Carlotti Júnior, afirma que, para isso, é necessário ter financiamento público, uma vez que a maioria dos alunos não tem condições de bancar os estudos fora. “O retorno que essa pessoa vai dar para o país é enorme.”
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