Grandes grupos concentram 6 em cada 10 matrículas no ensino superior privado

Maioria dos estudantes cursa modalidade EAD, segundo consultoria, com base em dados de 2022

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Fernando Leal
São Paulo

Faculdades que integram nove grandes grupos educacionais concentram 58% das matrículas em instituições privadas de ensino superior no Brasil, segundo a consultoria Hoper Educação, com base em dados de 2022.

A tendência de consolidação da educação superior particular começou no início dos anos 2000, mas se tornou mais intensa a partir de 2015.

A partir do final dos anos 1990 e principalmente depois de 2000, a rede privada registrou um forte crescimento, com expansão do número de unidades acompanhada do aumento considerável na quantidade de alunos.

Paciente passa por cirurgia para extração de raiz residual em clínica da Unip (Universidade Paulista), em São Paulo - Izabel Vianna - 4.jun.24/Arquivo pessoal

Contribuíram para isso a flexibilização das regras para autorização de novas faculdades e a criação do Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), em 1999, e do ProUni (Programa Universidade para Todos), em 2005, assim como a ampliação do Fies em 2010. O Censo da Educação Superior 2022 mostra que 88% das instituições de ensino são privadas e contabilizam 78% do total de matrículas.

Outro fenômeno igualmente relevante é o avanço da educação a distância, de forma bastante perceptível na década de 2010 no setor privado. Em 2015, cursos presenciais eram responsáveis por 79% das matrículas, e EAD, por 21%. Em 2022, EAD já representava a maioria das matrículas nas faculdades particulares (56,3%).

"A educação a distância atrai muitos jovens não apenas pelo preço, mas pela possibilidade de acesso, em localidades distantes, pela comodidade e pela flexibilidade", afirma Paulo Presse, coordenador de estudos de mercado da Hoper Educação.

Ele explica que o fortalecimento da modalidade a distância impacta diretamente a forma como as faculdades particulares se organizam e fazem a gestão dos processos administrativos e de ensino. "Isso fica ainda mais evidente com a aproximação dos modelos presencial e de EAD, com a crescente flexibilização e diversificação das possibilidades oferecidas aos potenciais estudantes", acrescenta.

Nesse quadro, levam vantagem as empresas bem estruturadas, do ponto de vista acadêmico e de gestão. Isso ajuda a explicar por que cerca de 80% do mercado de EAD seja atendido pelas 20 maiores instituições privadas e que, dessas, 16 façam parte dos grandes grupos. "Ainda poderemos ver novas movimentações de consolidação nos próximos anos", destaca Presse.

"A concentração de matrículas em grandes grupos de ensino é uma consequência das dinâmicas de mercado, que têm se intensificado devido a fatores como a crescente competitividade, a complexidade regulatória e a necessidade de eficiência administrativa", diz Celso Niskier, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) e integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE).

Ele alerta, porém, que as pequenas e médias instituições desempenham um papel essencial, especialmente em regiões onde os grandes grupos não chegam, ou em áreas que demandam abordagens especializadas e próximas às necessidades locais.

"Essas instituições menores têm características únicas, como maior flexibilidade e proximidade com as comunidades, permitindo uma adaptação mais rápida e personalizada ao contexto regional, o que contribui diretamente para a democratização e a inclusão no ensino superior."

Outro ponto de atenção acompanhado pelos especialistas é o desempenho dos cursos dos grandes grupos privados no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Considerando o número de participantes do exame em 2022, as graduações ligadas a essas organizações têm mais alunos nos conceitos 1 e 2 (abaixo do satisfatório) e menos nos conceitos 4 e 5 (os níveis mais altos) que a média geral do país, em que essas extremidades representam cerca de 25% do total.

"São cursos com grande volume de estudantes e forte presença da modalidade EAD, cujos participantes se concentram predominantemente nos conceitos 2 e 3", comenta o CEO da Hoper, Adriano Coelho.

Embora esteja entre os nove maiores grupos, o Afya não entrou no levantamento por ser voltado basicamente para a área de saúde e, assim, não ter resultados suficientes para comparação.

Com cerca de 13% de participação de mercado, o grupo Cogna é o maior e mais diversificado do país e conta com um portfólio de cerca de 60 marcas voltadas a toda a trajetória educacional, incluindo ensino técnico, cursinhos preparatórios e pós-graduação. Especificamente em ensino superior, a Cogna atua por meio da unidade de negócios Kroton, que inclui a Faculdade Anhanguera e as universidades Unic Cuiabá e Uniderp Campo Grande, por exemplo. Ao todo, são 112 campi e 3.000 polos EAD.

"Nossa principal estratégia no médio e longo prazo é focar em produtos híbridos e digitais, além dos cursos premium, como medicina", afirma Leo Queiroz, vice-presidente de crescimento. Para isso, aposta na tecnologia, na digitalização e na ajuda de inteligência artificial para explorar a base de dados da empresa.


Os nove maiores grupos de ensino superior privado

Cogna
Matrículas em 2022 896.495
Participação 13%
Faculdades Anhanguera, Pitágoras, Uniderp, Unic e Unime

Vitru
Matrículas em 2022 717.200
Participação 10,4%
Faculdades Uniasselvi e UniCesumar

YDUQS
Matrículas em 2022 707.300
Participação 10,2%
Faculdades Estácio, Ibmec, Idomed, Damásio, Wyden

Unip
Matrículas em 2022 484.988
Participação 7%

Cruzeiro do Sul
Matrículas em 2022 365.700
Participação 5,3%
Faculdades Universidade Cruzeiro do Sul, Braz Cubas, Cesuca, Ceunsp, Módulo, FSG, Fapi, UDF, Universidade Positivo, Unipê, Unicid e Unifran

Ânima
Matrículas em 2022 331.400
Participação 4,8%
Faculdades UNA, Anhembi Morumbi, UniSociesc, Unifacs, Milton Campos, São Judas, UNP, Unibh, UniRitter, AGES, Unifg-BA, Fadergs, Unicuritiba, FPB, Unisul, Faseh, Unifg-PE, IBMR e Inspirali

Ser Educacional
Matrículas em 2022 262.449
Participação 3,8%
Faculdades Uninassau, Centro Universitário 7 de Setembro, Unama, Uninorte, Unifael, UNG

Uninove
Matrículas em 2022 167.397
Participação 2,4%

Afya
Matrículas em 2022 58.200
Participação 0,8%
Faculdades Afya Faculdade de Ciências Médicas e Unigranrio

Relacionadas