Descrição de chapéu USP

Em dez edições, RUF retratou instituições do país com dados que estavam dispersos

Para criar um ranking universitário, Folha pesquisou a literatura científica, conversou com especialistas e participou de congressos

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Campinas

A primeira edição do RUF (Ranking Universitário Folha) mostrou, em outubro de 2012, que a USP era a melhor universidade do país, seguida das federais de Minas Gerais, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e da Unicamp. Era a primeira vez que uma avaliação nacional classificava todas as universidades brasileiras a partir de um conjunto de indicadores. A publicação acabou se tornando referência no país.

Em dez edições, o RUF quase sempre foi liderado pela USP (as exceções foram 2016 e 2017, quando a UFRJ passou a estadual paulista). No mesmo período, a USP despontou também em listagens universitárias internacionais.

Cap da primeira edição do RUF, publicada em 2012 - Folhapress

Um ano antes de o RUF sair do forno, a USP ocupou o 178º lugar no mundo no ranking britânico THE —Times Higher Education. Era a única instituição da América Latina entre as 200 melhores universidades do mundo.

Mas o que era possível dizer sobre a qualidade das outras 190 universidades ativas na época?

Por quase um ano, depois do lançamento do ranking do THE em 2011, a Folha buscou compreender como, afinal, é possível afirmar que uma universidade é melhor que outra. Foi assim que pesquisou a literatura científica sobre rankings, conversou com especialistas brasileiros e estrangeiros e participou de uma série de congressos internacionais.

Estive no Fórum do Observatório de Rankings IREG (da sigla em inglês) na República Tcheca, no Fórum Internacional de Universidades na Grécia e conversei com elaboradores de listas como Phil Baty (do THE), Ying Cheng (do Ranking de Xangai, da China) e Bob Morse (do U.S. News).

Morse relatou que o ranking do U.S. News —o primeiro do mundo, lançado ainda em 1983 pelo jornal homônimo— visava atender os estudantes que queriam saber sobre universidades dos EUA em um período pré-internet.

Capa da edição de 2016, quando o ranking foi liderado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - Folhapress

Acabou virando a principal fonte de informação para quem se interessasse pelo ecossistema universitário do país. Algo parecido aconteceu com o RUF em suas dez edições publicadas desde 2012 (os anos pandêmicos de 2020 a 2022 não tiveram ranking).

Assim como nos EUA, em países democráticos como Chile, Reino Unido e Alemanha os rankings costumam ser feitos por veículos de mídia que podem ter acesso aos dados produzidos.

Isso passou a valer também no Brasil. Na mesma época em que a Folha estudava criar o RUF, no final de 2011, foi promulgada a Lei de Acesso à Informação.

A partir de então, solicitações de dados feitas pela sociedade (incluindo a imprensa) teriam de ser respondidas pelo poder público. E a elaboração do RUF demandaria uma enorme quantidade de dados de instituições como o MEC (Ministério da Educação) e de agências de fomento à ciência federais e estaduais.

O adjetivo "enorme", aqui, não é exagero: a primeira edição do RUF reuniu mais de quatro milhões de campos de dados.

Capa da edição de 2023, ano em que o RUF foi retomado, quando a liderança foi dividida entre USP e Unicamp pela segunda vez - Folhapress

Foram informações solicitadas a diferentes órgãos e extraídas de bases como o Censo da Educação Superior do Inep-MEC, o Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e a Web of Science. Os números foram complementados por duas pesquisas nacionais do Datafolha. Foram ouvidos empregadores e professores da educação superior —prática comum em listas globais.

Foram levantados dados que, claro, faziam sentido no contexto brasileiro. Não adiantaria, por exemplo, coletar a quantidade de professores com prêmio Nobel no total do corpo docente de cada universidade como faz o Ranking de Xangai. Não temos tais agraciados no país.

Faz sentido, no entanto, olhar para o desempenho dos egressos das universidades no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes). Isso é computado no indicador de ensino do RUF.

Também tem lógica levar em conta as revistas científicas brasileiras indexadas na biblioteca eletrônica SciELO no total de produção científica de cada universidade. Isso está no indicador de pesquisa do RUF, mas não aparece em outros rankings globais.

Nem todos os números desejados foram factíveis. A edição de 2018, por exemplo, tentou calcular a evasão dos estudantes por curso em cada universidade. Não conseguiu. Até hoje, as instituições não compilam com precisão dados de evasão.

A mesma edição, no entanto, teve sucesso ao mostrar que uma em cada três universidades não atendia aos requisitos legais para ser considerada como tal. Na época, viu-se que 68 das então 196 universidades do país (34,7%) não tinham a proporção mínima exigida de professores com dedicação integral ou a quantidade de programas de pós-graduação imposta pelas regulamentações.

Na edição do ano seguinte, ao avaliar os cursos de direito —recordistas em ingressantes no país—, o RUF verificou que menos de 10% das faculdades que ofereciam a formação conseguiam aprovar pelo menos metade dos seus alunos no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). E seguiu tirando retratos.

O RUF viu o número de universidades crescer 6% desde a sua primeira edição e chegar a 203 instituições, sobretudo com novas federais. Analisou como se posicionam as públicas e as privadas no ensino superior brasileiro e que lugar ocupam instituições com diferentes tamanhos e históricos de consolidação.

É um cenário bastante heterogêneo. Tanto que o próprio RUF se adaptou: desde a edição de 2017 é possível comparar grupos de universidades por natureza administrativa, por tamanho e por tempo de fundação —além de classificar as instituições de um mesmo estado.

A ideia é segmentar cada vez mais a avaliação para permitir análises mais profundas, capazes de, quem sabe, guiar a elaboração de diretrizes e de políticas públicas para o fortalecimento da nossa educação superior.

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