Seja como objeto de estudo, seja como referência na seleção de instituições para amostra de pesquisa, o RUF (Ranking Universitário Folha) é abordado em trabalhos acadêmicos desde 2012, ano de seu lançamento. Até 2023, quando foi retomado, o ranking figurou em 54 produções, sendo 29 dissertações de mestrado acadêmico e profissional e 15 teses de doutorado.
Os dados são do estudo conduzido por Adolfo-Ignacio Calderón, professor do programa de pós-graduação em educação da PUC-Campinas, e Edivaldo Martins, pesquisador do Grupo de Avaliação, Políticas Educacionais e Sistemas Educacionais da mesma universidade. Ainda em andamento, a pesquisa é realizada a partir de projetos financiados pela Capes e pelo CNPq, do qual Calderón é bolsista de produtividade.
Na tese defendida em 2015 por Solange Santos, 53, pesquisadora do CiMetrias (Grupo de Pesquisa em Métricas da Ciência e Tecnologia) da ECA-USP, o RUF está ao lado de cinco listas globais, incluindo o THE (Times Higher Education) e o Ranking de Xangai, na análise dos vieses contidos na metodologia.
Isso porque, em 2011, quando Solange começou o doutorado, as universidades brasileiras apareciam pela primeira vez em rankings internacionais, mas não havia compreensão sobre o modo de produção e as limitações de todas listas, afirma a pesquisadora. Em 2016, o trabalho recebeu o Prêmio Capes de Tese.
"A ideia era mostrar que rankings não são instrumentos neutros e que devem ser avaliados com cuidado, porque têm falhas e vieses. Quem estuda bibliometria sabe disso, mas um aluno do ensino médio, ao ver para uma lista parecida com uma tabela de classificação de futebol, pensa: este é o primeiro, logo, é o melhor", explica.
Em linha semelhante, o conceito de excelência construído pelos rankings foi tema da dissertação de mestrado de Arthur de Ávila Soares, 28, hoje doutorando em sociologia pelo programa de pós-graduação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), na qual o RUF é o objeto principal de pesquisa.
O trabalho concluiu que os indicadores bibliométricos (ou seja, relacionados à publicação) são priorizados inclusive nos aspectos além da pesquisa —como exemplo, ele menciona o quesito internacionalização, que considera as citações internacionais por docente e as publicações em coautoria internacional. "É como se o RUF dissesse que a universidade boa é a que mais publica."
Tal concepção é, segundo o pesquisador, reflexo de como as instituições de ensino superior são entendidas pela sociedade. "O RUF é o que precisa ser. Ele analisa as universidades da forma como nós a imaginamos, por isso é tão naturalizado. Mas um dos perigos é a ação da universidade ser guiada pelo ranking: se ser boa significa publicar, vamos publicar cada vez mais."
No levantamento de Calderón e Martins, a administração é a área com mais produções que abordam o RUF, reunindo 23 das 54 pesquisas mapeadas. Em 2021, três destes trabalhos foram orientados por Denise Corrêa, 59, professora do mestrado profissional do programa de pós-graduação em administração e controladoria da UFC (Universidade Federal do Ceará).
Com recortes distintos, as três dissertações analisam a eficiência da gestão das instituições. "Hoje, com a pressão de equilíbrio fiscal e escassez de recursos, é preciso prestar contas à sociedade e a quem provê —neste caso, o governo federal. A partir dos resultados do RUF, conseguimos identificar entidades que podem servir de benchmarks [padrão de referência] para outras e boas práticas que podem ser replicadas", explica.
Para a professora, os critérios que compõem a nota do RUF —ensino, pesquisa, inovação, internacionalização e mercado— permitem que os gestores acompanhem o desempenho e entendam a reputação de suas instituições em diferentes perspectivas e mobilizem esforços para uma área específica.
"Como a Folha é uma entidade formada por profissionais de comunicação e jornalismo, entendemos que os parâmetros podem apontar quem obteve pontuação em determinada métrica de forma objetiva, padronizada e comparável."
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