Faculdades que integram nove grandes grupos educacionais concentram 58% das matrículas em instituições privadas de ensino superior no Brasil, segundo a consultoria Hoper Educação, com base em dados de 2022.
A tendência de consolidação da educação superior particular começou no início dos anos 2000, mas se tornou mais intensa a partir de 2015.
A partir do final dos anos 1990 e principalmente depois de 2000, a rede privada registrou um forte crescimento, com expansão do número de unidades acompanhada do aumento considerável na quantidade de alunos.
Contribuíram para isso a flexibilização das regras para autorização de novas faculdades e a criação do Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), em 1999, e do ProUni (Programa Universidade para Todos), em 2005, assim como a ampliação do Fies em 2010. O Censo da Educação Superior 2022 mostra que 88% das instituições de ensino são privadas e contabilizam 78% do total de matrículas.
Outro fenômeno igualmente relevante é o avanço da educação a distância, de forma bastante perceptível na década de 2010 no setor privado. Em 2015, cursos presenciais eram responsáveis por 79% das matrículas, e EAD, por 21%. Em 2022, EAD já representava a maioria das matrículas nas faculdades particulares (56,3%).
"A educação a distância atrai muitos jovens não apenas pelo preço, mas pela possibilidade de acesso, em localidades distantes, pela comodidade e pela flexibilidade", afirma Paulo Presse, coordenador de estudos de mercado da Hoper Educação.
Ele explica que o fortalecimento da modalidade a distância impacta diretamente a forma como as faculdades particulares se organizam e fazem a gestão dos processos administrativos e de ensino. "Isso fica ainda mais evidente com a aproximação dos modelos presencial e de EAD, com a crescente flexibilização e diversificação das possibilidades oferecidas aos potenciais estudantes", acrescenta.
Nesse quadro, levam vantagem as empresas bem estruturadas, do ponto de vista acadêmico e de gestão. Isso ajuda a explicar por que cerca de 80% do mercado de EAD seja atendido pelas 20 maiores instituições privadas e que, dessas, 16 façam parte dos grandes grupos. "Ainda poderemos ver novas movimentações de consolidação nos próximos anos", destaca Presse.
"A concentração de matrículas em grandes grupos de ensino é uma consequência das dinâmicas de mercado, que têm se intensificado devido a fatores como a crescente competitividade, a complexidade regulatória e a necessidade de eficiência administrativa", diz Celso Niskier, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) e integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE).
Ele alerta, porém, que as pequenas e médias instituições desempenham um papel essencial, especialmente em regiões onde os grandes grupos não chegam, ou em áreas que demandam abordagens especializadas e próximas às necessidades locais.
"Essas instituições menores têm características únicas, como maior flexibilidade e proximidade com as comunidades, permitindo uma adaptação mais rápida e personalizada ao contexto regional, o que contribui diretamente para a democratização e a inclusão no ensino superior."
Outro ponto de atenção acompanhado pelos especialistas é o desempenho dos cursos dos grandes grupos privados no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Considerando o número de participantes do exame em 2022, as graduações ligadas a essas organizações têm mais alunos nos conceitos 1 e 2 (abaixo do satisfatório) e menos nos conceitos 4 e 5 (os níveis mais altos) que a média geral do país, em que essas extremidades representam cerca de 25% do total.
"São cursos com grande volume de estudantes e forte presença da modalidade EAD, cujos participantes se concentram predominantemente nos conceitos 2 e 3", comenta o CEO da Hoper, Adriano Coelho.
Embora esteja entre os nove maiores grupos, o Afya não entrou no levantamento por ser voltado basicamente para a área de saúde e, assim, não ter resultados suficientes para comparação.
Com cerca de 13% de participação de mercado, o grupo Cogna é o maior e mais diversificado do país e conta com um portfólio de cerca de 60 marcas voltadas a toda a trajetória educacional, incluindo ensino técnico, cursinhos preparatórios e pós-graduação. Especificamente em ensino superior, a Cogna atua por meio da unidade de negócios Kroton, que inclui a Faculdade Anhanguera e as universidades Unic Cuiabá e Uniderp Campo Grande, por exemplo. Ao todo, são 112 campi e 3.000 polos EAD.
"Nossa principal estratégia no médio e longo prazo é focar em produtos híbridos e digitais, além dos cursos premium, como medicina", afirma Leo Queiroz, vice-presidente de crescimento. Para isso, aposta na tecnologia, na digitalização e na ajuda de inteligência artificial para explorar a base de dados da empresa.
Os nove maiores grupos de ensino superior privado
Cogna
Matrículas em 2022 896.495
Participação 13%
Faculdades Anhanguera, Pitágoras, Uniderp, Unic e Unime
Vitru
Matrículas em 2022 717.200
Participação 10,4%
Faculdades Uniasselvi e UniCesumar
YDUQS
Matrículas em 2022 707.300
Participação 10,2%
Faculdades Estácio, Ibmec, Idomed, Damásio, Wyden
Unip
Matrículas em 2022 484.988
Participação 7%
Cruzeiro do Sul
Matrículas em 2022 365.700
Participação 5,3%
Faculdades Universidade Cruzeiro do Sul, Braz Cubas, Cesuca, Ceunsp, Módulo, FSG, Fapi, UDF, Universidade Positivo, Unipê, Unicid e Unifran
Ânima
Matrículas em 2022 331.400
Participação 4,8%
Faculdades UNA, Anhembi Morumbi, UniSociesc, Unifacs, Milton Campos, São Judas, UNP, Unibh, UniRitter, AGES, Unifg-BA, Fadergs, Unicuritiba, FPB, Unisul, Faseh, Unifg-PE, IBMR e Inspirali
Ser Educacional
Matrículas em 2022 262.449
Participação 3,8%
Faculdades Uninassau, Centro Universitário 7 de Setembro, Unama, Uninorte, Unifael, UNG
Uninove
Matrículas em 2022 167.397
Participação 2,4%
Afya
Matrículas em 2022 58.200
Participação 0,8%
Faculdades Afya Faculdade de Ciências Médicas e Unigranrio
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