Contratação de professores formados pela própria universidade é regra em instituições

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Quase 3 em cada 4 professores da USP (Universidade de São Paulo) estudaram na própria instituição.

Levantamento inédito realizado pelo RUF, a partir de dados da Capes (agência federal ligada ao MEC), mostra que, do universo de 401 instituições de ensino superior, a USP é a que registra a maior proporção de docentes (74,11%) que fizeram o doutorado na universidade onde atuam.

Do total de 5.125 professores da USP, 3.798 obtiveram o título de doutor lá mesmo e 770 estudaram em outros lugares. Foram considerados só os docentes que atuam nos cursos de mestrado e doutorado e que têm vínculo empregatício com as instituições.

Bruno Santos/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 28.01.18 1h O que vai bombar no Carnaval 2018 nas ruas. Denny Azevedo, 34, e Ricardo Don, 31, artistas, no Academicos do Baixo Augusta. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, COTIDIANO)
Prédio do curso de arquitetura da USP

Encabeçam ainda a lista de instituições endogênicas -que contratam seus próprios doutores- a PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a UFRJ (Universidade Federal do Rio de janeiro) e a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), todas com taxas próximas ou superiores a 50%.

"Essa porcentagem alta não me surpreende muito. Há poucas universidades de excelência no Brasil, e a rotatividade fica limitada", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

"Além disso, os primeiros programas de pós-graduação do país surgiram nessas instituições mais consolidadas", afirma Renato Pedrosa, coordenador do Laboratório de Estudos em Educação Superior, da Unicamp.

Ainda que a endogenia esteja relacionada a essas características, seus efeitos não podem ser desprezados. "Sabemos da enorme contribuição de outras visões de mundo e da diversidade para o avanço das pesquisas", diz Clodoveu Davis, professor do Departamento de Ciência da Computação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Davis é um dos autores de uma pesquisa, de 2014, sobre a mobilidade dos pesquisadores brasileiros durante a formação e a atuação profissional. O estudo considerou cerca de 6.000 pesquisadores, a partir de currículos registrados na plataforma Lattes (banco de dados de cientistas).

"Constatamos a tendência desses pesquisadores de ficar na mesma região ou instituição durante a carreira", afirma.

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Outro fator que ajuda a entender essa permanência, no caso de instituições públicas, é o sistema de contratação, por meio de concurso público, no qual não se pode restringir a inscrição de candidatos.

"Além, disso, uma vez que a pessoa é contratada, ela adquire estabilidade, e o normal é ela passar toda a carreira na mesma instituição", diz o professor Leandro Tessler, do Instituto de Física da Unicamp.

Segundo Tessler, que se formou na UFRGS, fez doutorado em Tel Aviv e pós-doutorado na França, como há isonomia salarial nas universidades federais, por exemplo, é difícil oferecer atrativos para quem vem de fora, e os concursos acabam atraindo mais gente do próprio lugar.

"O Brasil não tem uma política que impeça a ocorrência sistemática da endogenia, nem no ingresso, nem durante a carreira. Tudo favorece a imobilidade", afirma Pedrosa.

Em alguns países, como os Estados Unidos, há uma tradição nas universidades de não contratar ex-alunos e existem mecanismos para promover a mobilidade acadêmica.

"A ideia de fazer o doutorado em um lugar e trabalhar em outro é a de desenvolver a experiência da autonomia, de se mostrar como pesquisador independente, o que é importante antes de se estabelecer numa instituição", diz.

Pedrosa conta que, na Itália, o concurso é nacional e, a partir da pontuação obtida, o futuro professor escolhe a instituição.

Outro exemplo é francês. Segundo Tessler, na École Polytechnique, onde trabalhou, cada vez que contratam um professor que se formou lá, eles contratam também um outro de um lugar diferente.

No Brasil, algumas ações semelhantes já acontecem. A FGV/Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo) evita a contratação de professores que tenham feito o mestrado e o doutorado na escola. E, ao final do programa que concede bolsas aos alunos de doutorado que auxiliam professores, esses doutorandos também não podem ser efetivados como docentes.

"Incentivamos os alunos a lecionar em outras instituições, inclusive, fora do Brasil. E, por outro lado, se não trazemos gente de fora, os assuntos pesquisados acabam sendo os mesmos, o que é negativo", diz Tales Andreassi, vice-diretor da instituição.

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