A partir de outubro, a melhor universidade do país no RUF, a UFRJ, não terá dinheiro para pagar a energia elétrica. O orçamento aprovado para 2017, de acordo com a reitoria da instituição, só deu conta de manter a federal do Rio até setembro.
O repasse para a universidade neste ano sofreu uma redução de 6,7% em relação ao ano passado –que, com a inflação, chegou a uma perda real de 13,5% dos recursos.
Na prática, o que não for pago neste ano vai entrar na conta de 2018 –que deve ter uma facada ainda maior. O repasse federal no ano que vem, diz a reitoria, deve cair 17% em relação a 2016.
A situação financeira frágil da melhor do país é perceptível na UFRJ. As obras da universidade estão paradas.
No campus Praia Vermelha, por causa de uma reforma que não termina, parte dos alunos tem aulas em contêineres.
"A universidade é antiga [foi fundada em 1920], precisamos modernizar os prédios e as instalações", diz o reitor Roberto Leher.
Um dos prédios estagnados em construção no campus Cidade Universitária (o "fundão") é o do Instituto de Física. O edifício abrigaria uma das principais áreas acadêmicas da UFRJ –segundo melhor curso de física no RUF.
A questão é que para fazer pesquisa nessa área hoje é preciso ter instalações elétricas mais sofisticadas.
Os bons resultados da UFRJ no ranking da Folha são resultados de esforços dos últimos anos da universidade.
"A gente precisa de equipamentos mais modernos para competir internacionalmente", afirma Luiz Davidovich, físico da UFRJ e presidente da ABC (Academia Brasileira de Ciências).
No laboratório de Davidovich –entre pôsteres de trabalhos importantes– há máquinas paradas porque falta dinheiro para manutenção. Caso de um laser que queimou há cerca de três anos.
"O que nos angustia e até nos deprime é que temos capacidade de fazer experimentos incríveis, mas não temos dinheiro", diz o físico.
Além de reformas, os prédios também precisariam de mais segurança. "Alguns equipamentos chegaram a custar R$ 18 milhões", diz o reitor. Na contramão, a universidade cortou, desde 2015, 1.800 funcionários terceirizados –inclusive de segurança.
Para driblar a questão estrutural, depois de ter metade do prédio que abrigava seu laboratório implodido, o neurocientista da UFRJ Stevens Rehen fez uma parceria com a iniciativa privada.
Desde 2014, Rehen instalou seu laboratório no Idor (Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino), da Rede D'Or São Luiz. "Foi um experimento."
De lá saiu a descoberta do mecanismo de ação do vírus da zika no cérebro, publicada na "Science" em 2016.
"Talvez não dê para fazer dessa forma em muitas áreas, mas consegui na minha. Não vamos deixar a peteca cair."