A fatia da região Sudeste no bolo de dinheiro investido em ciência no país diminui desde a primeira edição do RUF, publicada em 2012.
A participação do Sudeste no total arrecadado para atividades científicas caiu de 65% (na edição de 2012 do RUF, com dados de 2010) para 59% (nesta edição de 2015, dados de 2013).
A quantidade de dinheiro que cada universidade consegue para suas pesquisas é um dos indicadores do RUF que medem a atividade acadêmica das instituições.
Esses dados são coletados nas agências de fomento federais à ciência –como a Capes (com foco na pós-graduação) e CNPq (que prioriza a pesquisa)– e nas fundações estaduais de amparo à pesquisa.
O maior crescimento proporcional de recursos para pesquisa foi na região Sul.
No RUF 2012, as 46 universidades da região tinham 14% do bolo financeiro. Nesta edição de 2015, a fatia aumentou para 18% do total.
Juntos, Norte, Nordeste e Centro-Oeste subiram de 21% do total arrecadado pelas universidades para 23%.
Para a economista Maria Beatriz Bonacelli, do departamento de política científica e tecnológica da Unicamp, a mudança na distribuição dos recursos para ciência pode estar relacionada à criação e a consolidação de universidades federais pelo país.
Fato: dez das 14 universidades federais criadas nos últimos dez anos estão no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. "Isso pode explicar a queda de recursos do Sudeste."
Glaucius Oliva, que presidiu o CNPq de 2011 a 2015, afirma que a mudança na distribuição do dinheiro pode, também, ser resultado de uma política antiga que estabeleceu cota mínima de recursos para universidades de regiões em desenvolvimento.
Desde 2001, Norte, Nordeste e Centro-Oeste recebem obrigatoriamente 30% dos recursos federais para ciência.
"No começo, era preciso fazer um certo esforço para atingir a meta, porque alguns projetos das regiões em desenvolvimento não eram tão competitivos", afirma.
Com mais dinheiro, os grupos de pesquisa dessas regiões se fortaleceram.
"Mais recentemente, alguns editais [chamadas de financiamento para projetos de pesquisa] chegaram a ter mais de 30% para as regiões em desenvolvimento", diz.
Hoje, de acordo com Oliva, há grupos de pesquisa nordestinos que competem em igualdade com as universidades paulistas –caso da área de física da Universidade Federal de Pernambuco.
"Agora, é importante dar um passo além, e analisar também as desigualdades inter-regionais", afirma ele.