A algazarra é constante no saguão em que se destacam um esqueleto de baleia e um giroscópio onde crianças e adolescentes fazem fila para experimentar a sensação de ausência de gravidade. É uma terça-feira no Museu de Ciências e Tecnologia da PUC-RS.
Debaixo do saguão, 1.200 m² de coleções existem no silêncio absoluto do inanimado.
São borboletas, besouros, aves empalhadas, fósseis, peixes em frascos de vidro, artefatos de escavações, caixas e caixas de objetos que contam a história das populações indígenas do estado por meio dos vestígios de seus sambaquis.
Carlos Lucena é o coordenador das coleções científicas do museu da PUC-RS, que somam 1,2 milhão de exemplares.
O biólogo conta que em 1967, quando começou, era "uma coleção bem humilde". O espaço erguido em 1998 foi inspirado em museus interativos que Norberto Rauch (1929-2011), reitor da PUC-RS de 1978 a 2004, viu na Alemanha.
É um museu popular, que às vezes recebe 3.000 crianças num só dia. O lado lúdico, porém, é uma faca de dois gumes. Tem que se evitar "virar parquinho", como diz Lucena.
"A gente tenta instigar, com perguntas ou questões, para que as pessoas possam refletir sobre o que estão vendo."
Educadores que levam escolas fazem uma pré-visita, na qual conhecem o espaço e se preparam segundo suas necessidades pedagógicas.
O museu tem também programas comunitários. O de visitação gratuita recebe ao ano 15 mil pessoas que não podem pagar de R$ 16 a R$ 30 para entrar. A carreta do Programa Museu Itinerante já levou seus 50 experimentos e um filme 3D sobre o corpo humano a mais de 180 municípios.
Mas até mesmo um museu-sensação enfrenta problemas. A bilheteria cobre só um terço dos R$ 7 milhões do custo anual, diz o coordenador administrativo, Jorge Frantz. O resto vem dos cofres da PUC-RS.
"Às vezes se olha esse museu e acha que ele não precisa de mais nada", diz Lucena. Fica difícil competir nos mesmos editais que instituições públicas, ainda mais necessitadas. "Parecemos os primos ricos."
Há ainda as caras mostras temporárias a pressionar as contas. Há que renová-las para não cansar o público escolar.
Essa questão foi um dos motivos para a mudança de perfil do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp.
O cenário é minimalista; um predinho retangular para a administração; um caminhão para atividades itinerantes; um galpão; e uma praça com um relógio de sol, pêndulos e outros equipamentos para o estudo do tempo. Debaixo de um domo de lona, há uma exposição sobre a luz, última temporária montada ali.
Mas é o "undersquare", um espaço sob a praça, como indica o apelido, o coração do Museu Exploratório. Ali acontecem as oficinas que o redefiniram como "museu de atividades", no dizer de seu diretor, André Santanchè. A crise, conta o professor da área de informática, "ajudou um pouco a encontrar uma identidade."
Contra o efeito parquinho, ele insta os 17 estagiários, vindos de licenciaturas como biologia e história, a fomentarem o "processo criativo e crítico das crianças", e não só mostrarem "coisa legal".
Numa oficina pop como a de biscoitos, as crianças criam e imprimem em 3D o molde para seu doce, mas também recebem uma aula sobre o aspecto químico da receita.
Em outro elo com a comunidade, promove o Grande Desafio, no qual grupos, divididos por faixas etárias, criam soluções para um problema proposto pelo museu. Há eventos de teste ano afora, até a final. Nesta 9ª edição, o tema era a limpeza das cidades.
O museu também usa seu conhecimento logístico para dar apoio a exposições em outras unidades da Unicamp.
Em 2009, houve um concurso internacional de arquitetura para uma nova sede, vencido pelos brasileiros Daniel Corsi e Dani Hirano. Era um momento "de vacas gordas" no estado, lembra Santanchè.
Os anseios se redefiniram diante da realidade. Por ora, o que almejam é restaurar um dos prédios históricos onde funcionava o Colégio Técnico da Unicamp e, assim, ter um braço no centro da cidade, um lugar onde as pessoas passem e entrem, sem terem de ir até o campus.