No Rio de Janeiro, pesquisadores de uma empresa incubada no parque tecnológico da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) desenvolveram boias oceanográficas capazes de monitorar vazamento de óleo e movimentos de cardumes de peixes.
Em Curitiba, a UFPR (Universidade Federal do Paraná) patenteou um produto que permite detectar a presença de agentes infecciosos com menor custo.
Em Campinas, um professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) desenvolveu a vacina antizika, cuja patente foi depositada no ano passado.
Adriano Vizoni - 18.ago.2017/Folhapress | ||
Laboratório de neurociência da UFRJ, em parceria com o Instituto D'Or |
As três instituições, respectivamente, são as primeiras colocadas no indicador de inovação do RUF, que avalia dois quesitos: o número de patentes pedidas em dez anos e os estudos realizados com o setor produtivo. Entre as dez primeiras colocadas, sete são universidades públicas.
"As instituições públicas têm um protagonismo na produção do conhecimento no Brasil. Isso é histórico. Mas não basta. Apenas quando esse repertório se reflete em inovação e é transformado em produtos ou serviços para o bem da sociedade é que o ciclo está fechado", diz Ricardo Marcelo Fonseca, reitor da UFPR.
O caminho entre o invento e a viabilização não é simples. Muitas vezes, o dono da ideia não se atém à necessidade de proteger aquilo que criou e, via de regra, precisa de uma estrutura para dar forma ao que imagina –atribuições que cabem à universidade.
"O mais importante é termos uma atuação forte em grupos de pesquisa, educando professores da possibilidade que têm de inovar e da necessidade de proteger o que é criado", diz Newton Frateschi, diretor-executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp.
Frateschi explica que a Inova Unicamp atua em três frentes: estímulo e mapeamento de propriedade intelectual, busca de parcerias para o desenvolvimento das tecnologias criadas e fomento ao empreendedorismo.
"Depois da tecnologia patenteada, divulgamos na internet e apresentamos o portfólio às empresas. Também temos estimulado o empreendedorismo, com cursos de capacitação que, por exemplo, ensinem a transformar a patente em negócio."
Um desafio comum às instituições é fazer com que a cultura da inovação não seja restrita aos cursos de exatas ou biológicas. "É preciso fomentar o potencial de áreas como a de humanas, que parecem ter menos vocação para isso", afirma Fonseca.
Já a UFRJ, campeã no indicador nesta edição do RUF, aposta no que chama de "diversidade da inovação". "Temos atuação de excelência associadas às engenharias, mas precisamos instigar gente de todos os segmentos a criar", diz José Carlos Pinto, diretor do Parque Tecnológico da UFRJ.
Uma das estratégias é disseminar a cultura empreendedora. "Já identificamos mil iniciativas de alunos. Há um movimento consistente de interesse em startups, em tecnologia social. E isso extrapola as áreas mais tradicionais quando se fala em inovação", diz.
Os avanços na capacidade inovativa do Brasil são importantes, mas não suficientes, afirmam os especialistas. Os principais entraves estão relacionados à burocracia, ao modelo de parceria com empresas e à limitação de recursos.
"O orçamento das universidades já estava sendo reduzido. Agora, em um ambiente de teto dos gastos, os recursos destinados à ciência ficam ainda mais restritos, o que impacta no número de pós-graduandos e na oferta de bolsas de estudo", afirma a cientista social Biancca Castro, que estuda os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) nas universidades brasileiras.
Para ela, o cenário não é promissor. "Estamos atrás do resto do mundo e aquém da potencialidade que temos. Mas comparar o resultado só é válido se tivermos em vista os insumos ou a falta deles", afirma.
Também recai sobre orçamento a dificuldade do país de encontrar uma "linha de inovação brasileira". Mas, nesse caso, o que está em jogo é o modelo de parceria feito entre universidade e empresa.
"Boa parte das nossas inovações são incrementais. Você só melhora algo que já se usa lá fora, até porque dessa forma fica mais barato", diz Herica Righi, economista especializada em política científica e tecnológica. "Isso tem de mudar. Temos de unir a empresa e universidade para achar a linha de inovação brasileira."
Por fim, é preciso rever a burocracia. "É uma corrida tecnológica e não temos uma legislação que nos permita avançar no ritmo do resto do mundo", afirma José Carlos Pinto, da UFRJ.