Mesmo com R$ 200 milhões de deficit orçamentário em 2017, a Unicamp superou a USP no RUF e surge na segunda posição, atrás da UFRJ.
A troca de posições ocorre principalmente por causa do indicador de ensino (a USP não participa do Enade). O indicador de pesquisa deixa a USP à frente da Unicamp, mas a liderança é reflexo da diferença de tamanho entre as duas estaduais paulistas.
Com mais pesquisadores e áreas de atuação, a USP tem mais volume de artigos publicados e citados. Mas, em relação ao número de citações e publicações por docente, o resultado da Unicamp é um pouco superior. A proporção de pesquisadores com bolsa produtividade do CNPq também é maior em Campinas.
O resultado do RUF acompanha o do ranking internacional da THE (Times Higher Education), em que a Unicamp aparece como a melhor da América Latina. À frente da USP pela primeira vez.
A capacidade de inovação científica da instituição foi o que alçou a Unicamp à liderança no ranking britânico.
O apreço por inovação e proximidade com o setor produtivo é um atributo que professores e dirigentes ressaltam como marca da instituição –a mais jovem do top 5 do RUF, fundada em 1966.
No cargo desde abril, o reitor Marcelo Knobel ressalta que o foco em pesquisa, pós-graduação e internacionalização foi reforçado ao longo dos anos. "Temos um perfil único no país e raro no mundo, com praticamente o mesmo percentual de alunos de pós-graduação e graduação."
Das 36,5 mil matrículas, 46,5% são de pós-graduação. Esse índice é de 34% na USP, que tem 95,6 mil alunos.
Para o THE, um índice de transferência de tecnologia foi fundamental. Criada há 14 anos, a Agência Inova da Unicamp registrou em 2016 mais que o dobro do valor em parcerias com empresas ante 2015: R$ 56 milhões.
Além de ser responsável pelo parque industrial e pela incubação de empresas, a agência atua para facilitar novas patentes e intermediar licenciamentos para empresas.
"Nosso papel não é criar desenvolvimento industrial, mas, sim, formar recursos humanos", diz o diretor da Inova, Newton Frateschi. "Somos como uma agência de casamento entre academia e setor produtivo", brinca.
A Unicamp fez 80 pedidos de patentes em 2016, volume recorde. Tem 135 tecnologias licenciadas, e os ganhos somaram R$ 660 mil em 2016.
Os resultados vieram apesar da crise e da turbulência orçamentária. Outros setores sofreram impacto maior.
No Lactad, laboratório de tecnologias de alto desempenho em ciências da vida, há equipamentos com demanda próxima a 100% de uso. Caiu, porém, o número de projetos nos últimos dois anos, segundo Sandra Krauchenko, diretora de serviços. "Os recursos não vieram. Mas a situação parece começar a melhorar."
Responsável pelo sequenciamento genético no laboratório, Vinicius Pedroni, 32, saiu de Goiás para a Unicamp em 2005, na graduação. Não deixou mais a instituição, onde fez mestrado e doutorado.
Vindo de escola pública, contou com bônus no vestibular e foi beneficiado por políticas de permanência.
"Era um dos poucos de escola pública na minha sala. Passei seis anos na moradia estudantil, e desde 2012 sou aluno e funcionário. A Unicamp é a minha vida", diz.
Em 2017, a universidade alcançou uma marca histórica: com 50,3% dos matriculados vindos da rede pública.
No vestibular de 2019, passará a valer novo sistema de cotas sociais e raciais. Para Knobel, a universidade ganha ao ampliar a diversidade dos alunos. O reitor aposta na revisão de gastos para atender às demandas de inclusão e manter o foco em pesquisa de alto desempenho. "A Unicamp é pública e gratuita, de extrema qualidade, mas não é grátis", diz. "Mantê-la é fundamental para a região, o Estado e o país."
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