Particulares são 'top' na lista dos que contratam
Quais são as instituições de ensino mais eficientes? Depende a quem se pergunta.
Para o mercado de trabalho, pode ser uma escola privada. A Unip, por exemplo.
Para o universo acadêmico, o melhor ensino está basicamente nas públicas. Na Unicamp, por exemplo.
A discrepância ficou evidente nos indicadores do RUF que analisaram os dois grupos, a partir de levantamento feito pelo Datafolha.
Os profissionais de Recursos Humanos foram entrevistados para que apontassem as universidades, faculdades e centros universitários cujos formados têm preferência nos seus processos seletivos.
Daigo Oliva/Folhapress | ||
Clínica odontológica da Unip, em São Paulo, considerada pelo mercado de trabalho uma das mais eficientes |
Já os pesquisadores citaram quais escolas superiores do país, na sua avaliação, oferecem o melhor ensino.
Considerando as 15 instituições com as maiores notas em cada grupo, a USP lidera ambas. No geral, as demais posições mudam. E só cinco escolas estão nas duas listas.
ANÁLISE
Na classificação feita por executivos de RH, há seis universidades privadas entre as 15 melhores; já na lista dos cientistas, há apenas uma.
Especialista em orientação vocacional, a professora da USP Yvette Piha Lehman diz que as diferenças fazem sentido, uma vez que os grupos têm interesses distintos.
O mercado de trabalho, em geral, busca um profissional com boa técnica na sua área de atuação, afirma ela.
Para esse perfil, instituições privadas enfatizam a prática, oferecem estágio logo no começo dos cursos.
Já os cientistas esperam que o aluno tenha formação mais crítica, se aprofunde em pesquisas, o que é uma característica mais presente nas universidades públicas.
As respostas ao Datafolha reforçam essa impressão. Para os profissionais de Recursos Humanos, o ensino é o aspecto mais importante em uma boa universidade e deve ter o maior peso, seguido da inovação e da pesquisa.
Para os cientistas, a universidade precisa buscar equilíbrio entre ensino e pesquisa.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
UNIP X UNICAMP
A divergência de visão entre executivos de empresas e cientistas fica mais evidente quando analisamos as posições da Unip e da Unicamp. A primeira, privada, aparece como a 10ª melhor para o mercado de trabalho. Entre os cientistas, nem é citada.
A Unicamp, pública, aparece como a segunda melhor instituição de ensino, segundo cientistas. Para profissionais de RH, é a 47ª.
Após analisar os resultados, o Datafolha aponta que, além dos interesses distintos entre os grupos, aspectos regionais podem, também, influenciar as respostas.
O executivo valoriza a instituição que lhe oferece bons profissionais --em geral, eles saem de escolas do local de atuação da empresa.
Podem ser até instituições de ensino superior sem papel relevante na pesquisa científica, mas que tenham fama de oferecer boa formação.
O cientista, por outro lado, valoriza as que se destacam na produção em suas respectivas áreas, independentemente da região do país.
VOLUME
"Se for considerar quem faz pesquisa, basicamente é a USP e a Unicamp, ao menos na minha área", diz o pesquisador titular do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Joaquim José Barroso de Castro, que atua com eletrônica de micro-ondas.
"O objetivo do ensino privado é dar aulas, o professor nem tem tempo para pesquisar. Mas tenho na pós-graduação aluno da Unip, que é muito entusiasmado e compensa qualquer dificuldade", afirma Castro, que leciona no mestrado do instituto.
Para a supervisora de Recursos Humanos do hospital Sepaco (São Paulo), Adriana Prata Rodrigues, o volume de formandos da rede privada (mais de 60% do total) pode ser uma das explicações para que essas escolas sejam muito lembradas pelas empresas. "Quase não recebemos currículo de formados de universidade pública."
METODOLOGIA
O Datafolha entrevistou 1.212 diretores, gerentes e profissionais responsáveis pela área de Recursos Humanos das empresas.
Foram consideradas instituições que contrataram egressos de algum dos 20 cursos que mais formaram em 2010.
O outro grupo foi composto por 597 cientistas (de oito áreas), com boa produção, segundo o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
A amostra foi montada para representar os dois setores, no país. As entrevistas ocorreram entre março e junho.
Editoria de Arte/Folhapress | ||